Crônica


Garoto de Aluguel

O método mais usado para o trabalho é o anúncio nos classificados. Lá está às descrições dos belos à disposição para realizar as fantasias de mulheres carentes e fogosas.

João Paulo, lindo e sensual. Todas as mulheres que o procuram, sempre voltam para relembrar os bons e inesquecíveis momentos “de prazer e consolação”, assim ele afirma, sem medo de errar. Ele não nega o quanto se sente realizado com a profissão. Mesmo gostando do que faz, não costuma dizer aos parentes, amigos e vizinhos sobre o trabalho. Apenas à esposa com quem tem um filho de cinco anos. Ela não se preocupa com quantas mulheres ele se deita; interessa apenas a quantidade em dinheiro com a qual ele chega em casa, para pagar as faturas mensais.

Os vizinhos não têm conhecimento sobre o trabalho. Sempre que perguntam, ele afirma que é corretor de imóveis.

Muito popular no bairro onde mora, mestre para fugir de situações complicadas. Famoso por trabalhar até em feriado e final de semana, ele é sempre lembrado como muito trabalhador.

Não costuma negar as oportunidades que surgem. Foi solicitado para um trabalho em pleno feriado. A jovem ligou, com uma voz suave e sensual, dizendo que esperava ansiosa por ele em casa. Chegado o momento ele foi ao encontro daquela mulher com quem conversou por telefone, entusiasmado para conhecê-la. Ao aproximar se do endereço indicado seu coração começou a bater mais forte; estava conhecendo o lugar, afinal era ali o seu bairro. Constatando que era, sim, o endereço marcado, ficou muito surpreso e feliz. Mesmo pensando estar enganado, tocou a campainha e lá estava ela, linda, e com aquele brilho nos olhos igualmente aquele no momento em que se conheceram quando eram ainda adolescentes.

Surpresos, por alguns segundos, apenas olhavam um para outro. Paulo não conteve sua vontade e a beijou ardentemente. Clara disse estar realizando uma fantasia, mas não imaginava que fosse com o vizinho. Dizendo isso a campainha tocou, ficaram em apuros. João, muito habilidoso, se escondeu rapidamente embaixo da cama. Ao abrir a porta, Clara constatando que a vizinha a convidava para ir ao shopping, disse que não poderia ir, pois estava com consulta médica agendada para os próximos 30 minutos. Então a vizinha decidiu ir. Tranqüila, correu em direção ao quarto e lá estava João à sua espera. Ao aproximarem-se um do outro, o desejo aumentou. Ardentes de paixão se beijaram até se convencerem de que estavam mesmo juntos.

Amanheceu. Infelizmente – para o casal. João e a vizinha foram surpreendidos com o latir do cachorro sinalizando a presença de alguém ao portão. Era o dono da casa chegando de uma viagem sem data para retorno. Em apuros, João correu em direção à casa ao lado. Conseguindo saltar o muro, sentiu-se aliviado, afinal estava novamente em sua casa. Depois de alguns segundos, o vizinho chamou tocando a campainha. João atendeu, perguntando se estava tudo bem, pois ouviu muito barulho e já estava indo ver o que estava acontecendo. O vizinho, então, respondeu que Clara estava em casa chorando desesperada; um estranho havia tentado entrar na casa para roubar. E, como o amigo mora ao lado, queria saber se ele vira alguém saltando o muro. Sabendo das desculpas de Clara, João Paulo disse, apenas, que ouviu o cachorro latindo; nenhuma pessoa próxima. E foi dormir, com o coração aos pulos, sonhar com tudo aquilo que acabara de viver...